terça-feira, 25 de outubro de 2011

Romance Cigano

O  guardião e a Cigana
Um jovem guardião percorria pelos caminhos da vida sozinho, empenhado em realizar seu trabalho, sua morada era onde Deus o levava, todas as noites agradecia pela oportunidade do trabalho sempre tentando fazer seu melhor, era valente e bondoso, por onde passava conquistava respeito de todos, não media esforços para ajudar alguém que pedi-se sua ajuda. Havia passado por inúmeras batalhas e combates, sentira nos ombros a responsabilidade de nunca desistir sempre aprendia com suas derrotas,percebera que deveria lutar com sabedoria e não com a força, assim sua espada ficava mais ágil e leve e os golpes eram certeiros.
No final de cada dia fazia sua prece, mas algo faltava na vida do jovem guardião e um inimigo cruel começou a atacar: a solidão. Ele olhava em sua volta as famílias unidas  para fazer suas refeições e sempre alegres desejava um dia poder ter sua própria família, mas seu destino era ser um guardião  noites solitárias, olhava em sua volta e seu mundo fora perdendo a cor, estava desatento nas lutas e um sentimento de tristeza atravessou  seu coração em um golpe certeiro, a alegria estampada em seu rosto fora desaparecendo aos poucos, já não suportava o peso de sua espada.
Seu mestre sentiu a tristeza do coração do guardião e lhe orientava como seria doloroso para ele ter alguém ao seu lado pois o amor era a fraqueza do jovem guardião os inimigos não poupariam esforços de usar esta fraqueza, desta forma, fatalmente o guardião seria tomado por uma raiva incontrolável e todos os trabalhos seriam perdidos, o guardião se retirava a noite e ficava olhando a lua em silencio abatido e triste. A infelicidade se instalava cada vez mais no coração do guardião.
Em uma de suas viagens chegara ao povoado de MILYA um povoado cigano no qual foi muito bem recebido. Era dia de Santa Sara Kali e o povo estava em festa. Alegria espalhada por todos lados. O líder do grupo era um senhor sorridente onde a honestidade era impecável e o poder de liderança sem igual, justo e sempre acolhedor, seu povo estava sempre feliz em ter um líder nato, todos  o conheciam como PABLO, sua esposa chamava Perla, e sua filha Kalissa, uma cigana linda com olhos de esmeralda cabelos claros, sorriso puro.
Quando o jovem guardião olhou para Kalissa seu pés saíram do chão, sentira um sentimento que jamais sonhou que existisse, como se o mundo parasse naquele instante  mágico, único e inesquecível, o olhar sedutor da jovem Kalissa terminou com um sorriso que tinha o brilho da luz do sol. O coração do jovem guardião estava disparado, a alegria voltara em seu coração. A festa para Santa Sara Kali estava por começar, muita musica e danças. A lua estava cheia, linda no céu estrelado, todos podiam sentir a presença de Santa Sara Kali os abençoando. O guardião desejava ardentemente que aquela noite jamais terminasse.
Kalissa e o  guardião dançavam atraindo a atenção de todos na festa. Pablo sorria, pois sabia do trabalho e do respeito que o guardião já havia conquistado. A única coisa que faltava para o final feliz aconteceu: um beijo apaixonado entre Kalissa e o guardião, que fora recebido com salva de palmas, enfim a filha de Pablo se entregara ao amor e todos continuaram em festa.
Com o passar dos dias o amor de Kalissa e o guardião crescia. Ele lutava bravamente para defender o povo cigano. Ganhara muito respeito entre os ciganos e os povos em sua volta. Pablo considerava o guardião como filho e o guardião, jamais questionou uma de suas ordens. Kalissa conhecia a magia cigana de ler cartas, e tinha também o dom da cura e por onde passava encantava a todos com sua beleza e simplicidade. Todas  as vezes que guardião voltava de suas missões ela o esperava com braços abertos, ambos estavam cada dia mais apaixonados.
Para aumentar ainda mais a felicidade do guardião, o amor se sua vida iria dar a luz a sua filha, Kalissa estava esperando uma criança. Pablo seu pai declarou três dias de festa, todos do povoado estavam felizes. O guardião agradeceu ao Criador por viver um momento único como aquele, ao lado de seu Mestre, Guia e protetor, abraçou e chorou de felicidade, agradeceu por todo carinho que o mestre havia dedicado à ele e através de seus ensinamentos conquistara o que mais desejava ter sua família. Noites e noites, o guardião olhava ao horizonte em silencio. Talvez fosse uma forma dele  estar mais perto de Deus, sentia a presença de vários guias espirituais que sempre o acompanhavam.
Passaram oito meses e a filha de Kalissa estava preste a nascer, quando o amor de sua vida partira em uma missão em terras longínquas. Uma moça de um povo vizinho procurou Kalissa para realizar um encantamento  muito poderoso para afastar seu amor, mas ela não sabia que era contra ela mesmo o encantamento, pois a inveja de muitos o amor dela atraia e como um golpe traiçoeiro Maria uma cigana de outro povoado pegara um feixe do  cabelo de Kalissa no dia da festa e usara para o encantamento. Maria quando viu pela primeira vez o guardião um desejo lhe tomou conta e ela desejava com toda força que ele ainda seria dela!!!!
O encantamento foi realizado com sucesso. Kalissa sentiu na mesma hora, um mal estar e um pressentimento ruim,  ficara depois deste momento um dia na cama com um vazio que lhe consumia a alma e  a tristeza invadia o coração de Kalissa nem ao mesmo desconfiar que o encantamento era contra ela mesmo.
O Guardião voltou de sua missão e encontrou Maria, mas no olhar do guardião ela passou desapercebida, pois o amor que o guardião sentia por Kalissa e sua filha era maior que todo o encantamento. Como seu encantamento  não atingira o guardião, isto causou uma ira no coração de Maria pois o amor mal correspondido a atingiu como uma serpente e o veneno percorria em suas veias, ela neste instante fez um juramento:  “Se este amor não for meu não será de mais ninguém.”
O ódio de Maria lhe consumia a alma, assim ela decidiu então, colocar seu plano em ação: colocar um fim na vida do guardião. Contratou um homem de baixa índole para realizar o seu plano, sempre no mundo pessoas se vendem por dinheiro, e este homem só esperava o momento certo para realizar seu plano.
O Guardião quando viu Kalissa na cama sentiu a força do encantamento e chamou por Pery,um velho índio que conhecia como ninguém os encantamento e era também um dos guias do guardião. Pery  conseguiu desfazer o encantamento, todos estavam mais aliviados, o guardião agradeceu ao velho índio  e seu amigo de sempre. Pery olhou dentro dos olhos do guardião e falou: “TENHA CUIDADO A ESCURIDÃO ESTA PRÓXIMA, MANTENHA-SE EM ALERTA!” e partiu.
Aquelas palavras atingiram em cheio o coração do guardião, um mal pressentimento lhe abatera, pensou talvez seja por ver Kalissa sobre o encantamento, ele não suportaria viver sem o amor de sua vida. Lembrava que há tempos seu Mestre lhe falava que o seu amor seria sua fraqueza e seria constantemente atacado.
O Guardião não conseguia mais dormir, sempre com sua adaga ao lado em estado de alerta. Certa noite Pablo estava em sua ronda noturna ao povoado, quando chegou perto da tenda de Kalissa, quando o Guardião no impulso atacou Pablo, que desviou do ataque com a velocidade de um raio. O Guardião quando notou que era Pablo pediu desculpas. Pablo notou a preocupação nos olhos do guardião, deu-lhe um abraço e em silencio pediu para Santa Sara Kali que o protegesse.
O guardião com sua experiência de batalha sabia que quando se quer abalar seu inimigo deve abalar primeiro sua fé e suas estruturas. Quando se planta a semente da discórdia dentro de um coração a batalha estará perdida. Sentira neste momento que ele estava em perigo pois sua fé já estava abalada, juntamente com suas estruturas. Só não sabia de onde viria o ataque, sentia no vento que estava perto com suas percepções apuradas tinha certeza que algo iria acontecer.
Todos se reuniam para a festa,  era noite de lua clara e a música e alegria estavam por todo lugar. Antes de ir para a festa, o Guardião olhou dentro dos olhos de Kalissa e disse “ SEMPRE ESTAREI DO SEU LADO O AMOR QUE  SINTO POR VOCE É MAIOR QUE TUDO QUE CONQUISTEI NA VIDA”, passou a mão no ventre de Kalissa como se tivesse algo para dizer mais não disse sequer uma palavra.
O ar fúnebre se estalou pelo  povoado, todos choravam pela morte do guardião. A lua clara que brilhava no céu desapareceu e uma tempestade veio com toda força, nunca vista até então.  Muitos acreditavam que era a revolta de Santa Sara Kali. No local ondefoi enterrado o corpo do guardião não nasceu mais nada. Maria foi condenada pelo próprio destino,  ficou abandonada a sorte e  andou sem rumo e sem destino, morreu muitos anos depois de solidão. Os dois assassinos entraram pela mata, ninguém  mais os viu, mas conta a lenda que eles foram devorados pelos animais da selva e seus espíritos ficaram aprisionados em sofrimento sem fim na selva. Em noite de lua clara ouvem os gritos de desespero.
Kalissa alguns meses depois, deu a luz a SARA,  filha de seu maior amor, nome em homenagem a Santa Sara Kali. A pequena Sara tinha uma beleza única, como a própria mãe, mas com o espírito do Guardião. Dizem os sábios que as pessoas nunca morrem quando estão vivas dentro de um coração, assim o Guardião se tornou então imortal.
O amor verdadeiro  nunca morre, transpassa tempo e todas as dificuldades,  vence todas as barreiras. O espírito do Guardião por muitas vezes esteve com sua filha e seu grande amor. O Guardião enfim entendeu os ensinamentos de seu Mestre:  que a vida é uma escola, onde estamos sempre aprendendo. Seu coração reconheceu o perdão, seu espírito continuou de guardião, foi ele quem resgatou o espírito dos dois assassinos, e os ensinou, as lições do mundo espiritual e os encaminhou para as colônias espirituais. Maria recusou ajuda e viveu por muitas vidas sem o que mais desejava ter: um grande amor, suas limitações em aceitar as conseqüência dos próprios atos fizeram seu coração endurecer como rocha e seu livre arbítrio não foi interferido, passou vidas e vidas dominada em ciclo vicioso de solidão e sofrimento.
Kalissa cuidou de Sara e depois de muito tempo, enfim encontrou o guardião e viveram juntos. Sara se tornou líder de seu povo assumindo a missão de seu Avo Pablo, papel este desempenhado com absoluto sucesso. Pablo cumprira também sua missão e foi recebido no mundo espiritual pelo Guardião, Kalissa, Pery, e todos seus ancestrais, todos protegeram seu povo com amor, dedicação, e respeito, ensinaram a todos que única coisa que resiste ao tempo se chama AMOR !!!!!
Autor: MARCO PIZZI

Fundamental da culinária cigana

O que é fundamental saber sobre o universo da culinária cigana...

- Alegria, esse é o principal ingrediente da cozinha cigana, quem prepara o prato deve estar alegre, para imantar coisas positivas para o alimento; Para muitos pode parecer misticismo, mas não há comida que preste se quem a prepara está mal humorada, irritada ou triste. Absorvemos a magia do sabor e o ambiente e o estado emocional de quem o prepara é fator preponderante para que o resultado seja saboroso;

- Levar o alimento a boca por vontade própria é um ato mágico, uma gama de energia de desejo que se une a energia do alimentar-se.

- O ato de comer é sagrado e ritualístico;

- Desperdiçar comida, jamais;

- Não se deve negar ofertas de alimento;

-  Homens não combinam com cozinha, sendo assim não devem ficar nelas;

- Aos homens é dada a tarefa de cuidar dos assados;

- Deve ficar na cozinha somente  as mulheres que irão cozinhar;

- Mulheres  em período menstrual, grávidas ou que deram a luz recentemente, não devem cozinhar;

- A panela deverá ser mexida sempre no sentido horário e somente por uma pessoa;

- Panelas de ferro e colher de pau são itens indispensáveis devido a combinação energética que possuem.

Alquimia dos Alimentos

            Como bem dizem os antigos, cozinhar é a arte mais antiga que norteia a humanidade. Alimentar-se frente a uma refeição bem feita, não há nada igual. Pode ser um simples arroz com feijão, mas se ele for feito com gosto, carinho não há sabor comparável ao prazer de degustar esse elemento mágico.

            É com orgulho e com um valor incomensurável que as ciganas preparam suas receitas. Cozinhar é uma tradição que passa de mão para filha.

Os ciganos amam uma confraternização, e bem sabemos que festa sem comida não tem graça, para eles não há nada mais acolhedor que ter todos juntos saboreando uma boa comida e aproveitando a alegria que paira no ar quando estão reunidos.

As receitas possuem um conceito mágico, que devem ser distribuídas pelo mundo, as ciganas não possuem o medo de expor seus segredos culinários, ao contrário, acreditam que o conhecimento recebido deve ser repassado para que a energia boa possa fluir.

A magia do cozinhar começa na intenção, seguida pela escolha dos ingredientes, o calor do fogo, o preparo do alimento, o espírito de quem o faz. Os ciganos são extremamente cuidadosos ao prepararem as refeições pois segundo eles o corpo se nutre, mas é a alma que se alimenta.

A cozinha cigana pode ser considerada alquímica, pois trata de uma mistura de cores, temperos, sabores, aromas inexplicáveis, traduzidos em uma das melhores linhas culinárias existentes na fase da terra, afinal esse povo andou o mundo e aprimorou os conceitos e receitas de cada lugar, criando uma característica única aos seus pratos.

 Seus pratos tem uma forte influência de temperos e condimentos, característicos de vários locais do mundo. Saborear um prato cigano é saborear magia em pura forma, é estar consigo mesmo e alimentar a alma.

Ciganos no Brasil

            Primeiramente, temos de desmistificar a imagem do andarilho cigano, malandro, ladrão, seqüestrador de criancinhas, falastrão, desonesto. Isso foi fruto do preconceito diante dessa etnia livre e alegre, principalmente pelo fato de a crença deles não ser católica, religião dominante, confundida com os estados monárquicos por muito tempo.
A trajetória dos ciganos no Brasil começa no ano de 1574 com a chegada do primeiro cigano que se tem notícia. Na época de D’ Carlos V. O primeiro que se tem notícia a chegar ao Brasil, foi o cigano João de Torres que veio com sua mulher e filhos. Muitos eram nomeados Meirinhos da Corte, pessoas que levavam as notícias e comunicados do Reino a todas as Terras Brasileiras. Trabalhando também como Bandeirantes. Nestas inúmeras “levas” o número de ciganos era grande, e se destacavam com os principais sobrenomes: Monteiro, Savedra, Silva, Torres, Pereira, Ferreira, Lopes, Costa, Coelho, Carvalho, Torquato, Figueiredo e Alves, uma prova adicional de sua origem portuguesa. Sendo o Ferreira comum aos ciganos de outros Clãs vindos da Espanha.
O Rom mais ilustre que chegou ao Brasil foi Jan Nepomuscky Kubitschek , que trabalhou como marceneiro em Diamantina, embora não sabemos se acompanhado da Rromhá. Conhecido com João Alemão deve ter entrado no Brasil por volta de 1830-1835, casando-se pouco depois com uma brasileira. O primeiro foi João Nepomuceno Kubitschek, que viria a ser um destacado político. O segundo foi Augusto Elias Kubitschek, um comerciante. Augusto Kubitschek foi designado como delegado de polícia. Também consta que teve pelo menos uma filha, Júlia Kubitschek, que viria a ser a mãe de Juscelino Kubitschek. Ou seja, um dos mais queridos presidentes do Brasil do Século XX foi um cigano, ou pelo menos um descendente de ciganos.
Portugal desde 1526 já fazia leis (preconceituosas) contra os ciganos, e em virtude de precisarem de ferreiros e forjadores de armamentos os mandaram para esta Colônia distante para servir ao reino de Portugal. Algumas destas “LEIS”, elaboradas pelo Reino Português eram absurdas. Em 15 de julho de 1686, Dom Pedro II, rei de Portugal, em conluio com o clero sacerdotal da Igreja, determinou que os ciganos de Castela fossem exterminados e que seus filhos e netos tivessem domicílio certo ou fossem enviados para o Brasil, mais especificamente para o Maranhão. Em 1686, são expulsos de Espanha, Portugal e das Colônias Portuguesas na África, ao virem para o Brasil entraram por Maranhão e Pernambuco, se espalhando aos poucos por todo Brasil. Aqui nesta Terra, foi um pouco melhor, mas não deixaram de enfrentar preconceitos.
Dom João V (1689-1750), rei de Portugal, decretou a expulsão das mulheres ciganas para as terras do pau-brasil. Por anos a fio, promulgaram-se dezenas de leis, decretos, alvarás, exilando-os para os estados de Maranhão, Recife, Bahia e Rio de Janeiro, onde se encontravam os núcleos populacionais mais importantes da colônia portuguesa. Os que chegaram mais ainda estavam sobre o domínio dos Portugueses, eram proibidos de falar o Romanê, e esta lei só caiu em desuso no ano de 1900. Eram destinados a trabalhar na forja. Fabricavam ferraduras, ferramentas, apetrechos domésticos e outros.
Afirma-se que as mais importantes contribuições dos ciganos para o progresso e a prosperidade de nosso país foram negligenciadas até hoje pelos historiadores e livros escolares. Eles foram co-participantes da integração e da expansão territorial brasileira. Ouso afirmar, ainda, que, se não fossem os ciganos, as comunidades de antigamente, pequenos centros habitacionais, vilarejos, teriam progredido muito mais lentamente.
Os portugueses e africanos que vieram para cá não eram nômades. Os lusitanos procuravam fixar-se em terras além mar, e os africanos fixavam-se a estes últimos como escravos.
Então, de norte a sul, de leste a oeste, em todos os lugares, lá estavam os ciganos, livres, viajando em suas carroças, negociando animais, arreios, consertando engenhos, alambiques, soldando tachos, levando notícias, medicamentos, emplastros e também dançando, festejando e participando de atividades circenses.
Alegres, prudentes, místicos, magos e excelentes negociantes, quando chegavam aos vilarejos conservadores, era comum senhoras se benzerem com os rosários em mãos, esconderem as crianças nos armários, pois chegavam os ciganos com suas crenças pagãs.
Inúmeros ciganos serviram ao Exército Brasileiro, nas mais diferentes épocas, em busca de moedas de ouro e sossego. E quando as damas da corte sabiam que estes militares comandados eram ciganos, sabiam de ante mão que eram casados com ciganas e da-lhes as importunar, em busca de amor, poções e outros xavecos. As mesmas que exerciam seu preconceito, na ocasião das missas, freqüentavam suas Tsaras escondidas à tarde para tudo lhes pedir.
Os lugares que registram mais ciganos na atualidade são: Rio de Janeiro, (havia inclusive no Centro do RJ há muito tempo atrás uma rua que se chamava Rua dos Ciganos. Hoje Rua da Constituição) Rio Grande do Sul e nas diversas fronteiras que tem o nosso país.

Como os ciganos comemoram o Natal


O Natal cigano é conhecido como sendo uma festa bem grande, cujas comemorações, semelhantemente aos casamentos, podem chegar a prolongar-se por três dias. Mas nem em todos os grupos são assim. À semelhança do que acontece nas casas não-ciganas, onde o bacalhau cozido com couves e batatas constitui a refeição tradicional da noite de Cristo.
“À mesa” como dizem, é posta, porque no Natal “coloca-se a mesa” no chão, sobre uma toalha branca, como manda a tradição. Para a comunidade o Natal tem o mesmo significado que para os restantes cristãos, mas com muito mais importância. Para os ciganos, esta é a época mais importante do ano, razão porque é habitual viverem-na intensamente, numa festa em que, freqüentemente, chega para desfazer atritos e outros males que se fez presentes durante o ano.
Saliente-se, no entanto, que a dimensão das comemorações está relacionada com as posses dos diferentes grupos. A simplicidade da festa aumenta na mesma proporção em que diminuem os recursos de cada família. “Quem tem o que comer, come. Quem não tem, não come”.
Na casa dos ciganos “ricos” que ainda mantêm vivas as tradições normalmente é costume a festa começar no dia 23 de Dezembro e estender-se até ao dia 25, dia de Natal. A mesa farta é um dos requisitos da época. Para além do bacalhau cozido, com couves e batatas, já referido, não falta igualmente o bolinho de bacah e as frutas. No dia de Natal, as mesas enchem-se com cabrito assado e batata assada, carne guisada com batata cozida, galinhas cozidas, grão de bico, saladas de fruta e pudins. Iguarias destinadas não só aos convidados, como também a todos os que quiserem aparecer. É habitual os ciganos andarem de casa em casa, de barraca em barraca, e apanhar um bocado em cada mesa, a pedirem a benção ao cigano mais velho.

Dia dos Ciganos

O dia dos ciganos é comemorado em 8 de abril no mundo inteiro.

Estrela Cigana

Axioma

 O maior axioma do Povo Cigano diz simplesmente: "A sabedoria é como uma flor, de onde a abelha faz o mel e a aranha faz o veneno, cada uma de acordo com a sua própria natureza".
Seguem mais alguns dos axiomas ciganos:
-  A sobrevivência da etnia cigana segue, como os lobos, as leis instintivas da horda.
- A águia voa alto; mas corta-lhes as asas e ficará uma galinha grande.
- A alma nasce velha, e com o passar do tempo, vai rejuvenescendo. O corpo, não.
- A erva curva-se ao vento e levanta-se de novo quando o vento passou.
- A mais bela fogueira começa com pequenos ramos.
- Acautela-te de um povoado onde os cães não ladram.
- Ainda que montes um cavalo virado para a cauda, ele continuará a caminhar para frente.
- Aquele que odeia seu pai, odeia-se a si mesmo.
- Cada criança que nasce vem de universo que jamais foi visto por outra pessoa, e dele traz sempre algo mais para os que nasceram, que também assim contribuíram.
- Caminha sobre a erva com os pés leves; os teus cavalos poderão precisar dela.
- De nada vale acender uma vela quando o vento sopra.
- Depois de amanhã, o amanhã será hoje.
- Devemos aproveitar as pequenas coisas para obter os melhores resultados. Desprezando-as, perdem-se verdadeiras riquezas na vida.
- Dorme quando puderes, que a noite será talvez curta.
- Estigmas não fazem de um homem o Cristo.
- Fogo bonito começa com gravetos.
- Homem que se gaba é como tenda aberta para o pé-de-vento.
- Não afastes do outro, de maneira sistemática, as alegrias do espírito, que conduzem à serenidade.
- Não contes com o galo que canta; ele nunca porá ovos.
- Não mordas no cavalo, se não queres apanhar um coice.
- O caldeireiro come muitas vezes num tacho amassado.
- O fumo de uma fogueira pode cegar aquele que a acendeu.
- O gabola é como a tenda com a abertura virada para o vento.
- O homem faz o dinheiro, mas o dinheiro não faz o homem.
- O homem sensato ri sempre que pode, porque sabe que terá muitas ocasiões de chorar.
- O rato com uma flor na orelha não deixa de ser um rato.
- Para que serve uma estrela àquele que não quer ver?
- Para um homem sedento, uma gota d’água é como um lago.
- Pintas a erva da cor que quiseres; ela será sempre erva.
- Quando eu morrer / só te faço esta oração: / que as fitas do teu cabelo / possam atar minhas mãos.
- Quando não há pão, não se exigem bolos.
- Quando o diabo sorri, desconfia.
- Que os teus cavalos vivam muito tempo! [bênção cigana]
- Quem vive em tenda de vidro, não pode atirar pedras.
- Se ambicionarmos muita coisa, acabamos por não gozar o que temos.
- Se chover, não cubras a cabeça com um crivo.
- Se falares a um cavalo, não esperes resposta.
- Se for o teu irmão que te ofende, o teu sofrimento é dobrado.
- Se queres dizer um segredo a alguém, di-lo ao ouvido de um surdo.
- Se queres ver os peixes, não turves a água.
- Se te meteres num regato, não recrimines os teus sapatos por molhares os pés.
- Se tens as algibeiras vazias, não fiques com as mãos nelas.
- Se uma mosca te incomoda, não a mates; limpa antes a sujidade que a atraiu.
- Será teu amigo aquele que te der de comer quando tiveres fome.
- Um cão que corre sozinho julga-se o mais rápido do mundo.
- Um cavalo parado muito tempo tem formiga nas patas.
- Um sorriso na cara de um gadjo é mais raro que uma vaca pôr ovos.
- Uma lebre na panela vale mais do que seis no campo.
- Uma vida sem amor é como pão sem fermento.

Símbolo Geométrico

O grande símbolo geométrico do Povo Cigano é o Círculo Raiado (representando a roda da carroça que gira pelas estradas da vida) provando a não linearidade do tempo e do espaço; e o Pentagrama (estrela de 5 pontas) simbolizando o Homem Integral (de braços e pernas abetos) interagindo em perfeita harmonia com a plenitude da existência.

Essências e Aromas

 A verbena, a salvia, o ópio, o sândalo e algumas resinas extraídas das cascas das árvores sagradas, são ingredientes indispensáveis na manufatura caseira de incensos. Velas e sais de banho, mesclados com essências de aromas inebriantes e simplesmente usados nas abluções do dia-a-dia, nos contatos sociais e comerciais, nos encontros amorosos e principalmente nos ritos iniciáticos, de uma forma sensível e absolutamente mágica, conferindo grandes poderes.

Símbolos Sagrados

O punhal, o violino, o pandeiro, o leque, o xale, as medalhas e as fitas coloridas; o coral, o âmbar, o ônix, o abalone, a concha marinha (vieira), o hipocampo (cavalo-marinho), a coruja (mocho), o cavalo, o cachorro e o lobo são símbolos sagrados para o Povo Cigano.

domingo, 23 de outubro de 2011

Culinária Cigana

"A comida preferida é a que esta na mesa". Este ditado cigao, reflete a maneira como este povo, interage com os alimentos.
Na culinária cigana são indispensáveis: o cravo, a canela, o louro, o manjericão, o gengibre, os frutos do mar, as frutas cítricas e as frutas secas, o vinho, o mel, as maçãs, as pêras, os damascos, as ameixas e as uvas que fazem parte inclusive dos segredos de uma cozinha deveras afrodisíaca.
Sarmá(mistura de arroz, lentilha, carne de porco e tempero cigano) e Sarmali ( troxinha de repolho com recheio de carne bovina e tempero cigano) são dois pratos típicos desta cultura.
Na culinário, os homens somente preparam o porco e o carneiro.

Discriminação aos Ciganos

Ao longo do tempo, após sua chegada à Europa, os ciganos foram acusados de toda espécie de crime pelas populações sedentárias, que não entendiam como um povo poderia viver com tanta liberdade, sem apego a uma terra determinada.
 Além disso, da admiração inicial, fomentada, principalmente pelos líderes religiosos, iniciando-se pelo Arcebispo de Paris, quem primeiro ligou os ciganos à bruxaria, os ciganos passaram a ser vistos como verdadeiros inimigos da fé cristã, que contra eles lançou um processo sistemático de perseguição e destruição. Durante a inquisição católica, vários deles foram expulsos pelos tribunais do Santo Ofício.
As lendas que ligam os ciganos aos sofrimentos da Sagrada Família, da morte das crianças em Belém, da traição de Judas e do roubo do quarto cravo foram criadas com o fim específico de jogar contra esse povo a ira cristã, já que essas lendas não resistem à mais superficial análise histórica, tratada com a seriedade com que foi elaborada a pesquisa lingüística que determinou a origem desse povo.
 Assim, além dessas lendas infames e destinadas a desacreditar os ciganos, outras acusações foram sendo acrescentadas. Bruxaria, feitiçaria, canibalismo e outras barbaridades foram atribuídas aos ciganos, enquanto eram sistemática e metodicamente perseguidos. Esse comportamento ainda hoje persiste. Rotulados injustamente como ladrões, feiticeiros e vagabundos, os ciganos tornaram-se um espelho onde os homens das grandes cidades e de pequenos corações expiaram suas raivas, frustrações e sonhos de liberdade destruídos
Os ciganos ainda são relacionados a tudo de ruim que possa acontecer numa comunidade e sua chegada muitas vezes é motivo de reações até violentas da parte de cidadãos menos esclarecidos. Associam-nos ainda a roubos, desastres naturais, como ventanias e tempestades, além de toda sorte de trapaças e falsificações. Na raiz de tudo isso se encontra o fato inegável de que ciganos e gadjos têm modos diferentes de encarar a vida. A ignorância é a principal causa desse tratamento dispensado pelos sedentários aos ciganos, pois não conseguem compreender esse estilo de vida.  Pacientemente, este povo diferenciado, continuou sua marcha e até hoje seus estigmas não sararam.

Casa de Cigano

A casa de Cigano na atualidade, de ciganos sedentarizados, a Rromhá de hoje mora em casa e apartamento.
 Faz tempo desde o começo de nossa sedentarização, pelo menos à parte dos gitanos que são sedentarizados e semi sedentarizados no Brasil e também na América do Sul em geral, que as casas de cigano, muitas vezes tem características iguais, independendo do Clã ou família que se originaram.
O fato de ser cigano, mesmo de alma, é fator de suma importância, para que se tenha uma igualdade quando se trata de seu habitat.
Quando falamos neste assunto logo vem à mente a pergunta: Cigano mora em casa? Sim. São casas iguais a de pessoas de outras raças que existem no mundo.
A Rromhá de hoje principalmente, se vale de todos os adendos e aparatos tecnológicos como qualquer pessoa.  O diferencial da casa do cigano, é o seu jeito de viver.
Em casa um cigano faz questão de ser cigano. E a diferença estará em pequenos costumes que os zíngaros tem. Esteira de palha coberta por uma colcha grossa, Altar de Virgem Sara, Vinho de ervas, tatau (licor) de baunilha, leques nas paredes, plantas, bichos, condimentos variados na cozinha, cores fortes na decoração, castanholas nos móveis, são algumas das características da casa cigana. Na galétzo, o rechout de ferro, e as panelas de pedra são presença obrigatória.
Na casa de um cigano além destas características a principal sempre será, a alegria.
A defumação por incensos verticais (de vareta) é constante, e não raro todos os objetos terem odor de incenso. A música e os instrumentos musicais fazem parte do cenário assim como os cristais.

O Lenço

O lenço é um simbolismo forte entre os ciganos. Significa a aliança da mulher casada em sinal de respeito e fidelidade, antigamente muitas eram as mulheres que usavam os lenços e na maioria das vezes eram mulheres casadas, talvez o costume das mulheres não ciganas de usarem o lenço veio do Povo Cigano, hoje pouco são as mulheres que fazem uso do lenço. Na Cripta localizada em Saintes-Maries-de-La-Mer, são deixados milhares de lenços em sinal de graças de mulheres que engravidaram e tiveram seus filhos sadios. Os filhos para as mulheres ciganas são de suma importância, quanto mais filhos a mulher cigana tiver, mas dotada de sorte ela é considerada pelo seu povo. A pior praga para uma cigana é desejar que ela não tenha filhos, e a maior ofensa é chama-la de “Dy Chuço” (ventre seco).

Devoção a Santa Sara Kali


A hipótese da origem deste Povo ter se originado na Índia é provável, e pela devoção a Sara Kali é realmente impossível negar a familiaridade. Os ciganos nutrem o mais puro amor e respeito por Santa Sara, ainda que não seja provado o porquê da escolha. Para os Indianos a Santíssima Trindade; Braman, Vishnu e Shiva é mais importante que tudo, já que neste país a religião tem suma importância. Kali, a negra é venerada pelo Povo Hindu com Louvor.
Para os ciganos a Santa Sara venerada com o mesmo louvor é negra; daí ser conhecida como Sara Kali, mesmo sendo um Povo em que não existem negros (pelo menos tradicionalmente). Há várias histórias a respeito de Sara.
A mais comum afirma que seu mistério envolve o das "virgens negras", que na iconografia cristã representa a figura de Sara, a serva (de origem núbia) que teria acompanhado as três Marias: Jacobina, Salomé e Madalena, e, junto com José de Arimatéia fugido da Palestina numa pequena barca, transportando o Santo Graal (o cálice sagrado), que seria levado por elas para um mosteiro da antiga Bretanha. Muitas lendas contam que no ano 50 DC estavam todos nesta pequena barca, quando a mesma perdeu o rumo. Desesperadas as três Santas puseram-se a chorar. Então Sara tirou o lenço que trazia na cabeça e prometeu a Jesus que se todos se salvassem, ela estaria para o resto de seus dias a servir Jesus como sua escrava, jamais andando com a cabeça descoberta.
Milagrosamente a barca sem rumo, atravessou o oceano e aportou em Pethit Rhône, hoje Saintes Maries de La Mer. Sara cumpriu sua promessa e teve sua história divulgada pelas próprias Santas. Outras lendas narram Histórias em que ela era uma Rainha Egípcia. Considerada pelo Vaticano como Santa de culto regional, Sara nunca passou pelos processos de canonização, não se sabendo ao certo o que levou este Povo a eleger Sara sua padroeira universal. Todo cigano tem em sua Tsara ou Casa, uma imagem de Santa Sara Kali, utilizam também medalhas pedindo proteção. A ela oferecem frutas, flores, incensos e muitas orações para pedir graças e agradecer as mesmas. Em Saintes Maries de La Mer (Camargue, Sul da França) a padroeira universal dos ciganos, é festejada em 24 de maio, na cerimônia que se chama “Dalto Chucar Diklô” (te trarei um lenço bonito, que é um presente comum que se da em agradecimento) onde se pede saúde, prosperidade e outras graças.
Outra história a respeito de  Santa Sarah Kali seria serva e parteira de Maria e que Jesus a teria em alta estima por ela ter trazido Ele ao mundo.O que achei interessante que o site menciona este trecho:O texto apócrifo de Tiago mostra que os anjos trouxeram uma parteira, Sarah, que mal conseguia ver Maria, devido à luz que o espaço emitia. Sarah aproximou-se de Maria e observou que seus seios estavam cheios de leite, e que o nascimento de Jesus não tinha lhe tirado a virgindade. O bebé nasceu limpo, como se o parto tivesse sido dirigido pelos anjos e Sarah acompanhou a vida de Jesus com discrição. Provavelmente vivia com Maria, como escrava, Maria Madalena ou com José de Arimatéia, tio-avô de Jesus.
Após a morte de Jesus, os textos apócrifos relatam que as três Marias dirigiram-se para o sul da França, chegando entre 24 e 25 de Maio. Alguns relatos dizem que elas foram atiradas para um barco, sem remos ou provisões e que acabou por atracar na Praia de Maries-de-la-Mer, na foz do Rio Ródano.
Contam uma lenda que os restos mortais de Sara foram encontrados por um rei em 1448 e depositado na cripta da igreja de Saint-Michel, que também recebem em seu altar-mor um fragmento de sarcófago pagão do século III e uma pedra do altar do deu Mitra igualmente pagão, de origem oriental. No mesmo local em Saintes-Maries-de-La-Mer estão depositados os despojos de Maria jacobina e Maria Salomé.
No Brasil, Nossa Senhora Aparecida, em razão de sua pele negra, é a padroeira dos ciganos. E assim tanto no Santuário de Aparecida (para nós Brasileiros) quanto na Catedral de Saintes Maries de La Mer na França, o cigano tem o compromisso de ir, nem que seja uma única vez em sua vida.
 Uma vez por ano, ciganos de diversas partes do mundo se dirigem até Saintes Maries de La Mer, no sul da França, para homenagear Santa Sara. Na festa, peças do esqueleto de duas mulheres que estão enterradas debaixo do altar são retiradas de um relicário e levantadas para abençoar a multidão com suas roupas coloridas, suas músicas e instrumentos. Em seguida, a imagem de Sarah, vestida com belíssimos mantos, é retirada de um local perto da igreja (já que o Vaticano jamais a canonizou) e é levada em procissão até o mar através das ruelas cobertas de rosas. Quatro ciganos, vestidos com roupas tradicionais, colocam as relíquias em um barco cheio de flores, entram na água, repetem a chegada das fugitivas e o encontro com Sara. A partir daí, tudo é música, festa, cantos, e demonstrações de coragem diante de um touro.
Santa Sara distribui bênçãos ao povo, patrocina a família, os acampamentos, os alimentos e também tem força destruidora, aniquilando os poderes negativos e os malefícios que possam assolar a nação cigana. Quase todos são devotos de "Santa Sara", que é reverenciada nos dias 24 e 25 de maio, em procissões que lotam Lês Saints Maries de La Mer, em Camargue, no Sul da França. Através de uma longa noite de vigília e oração, pelos ciganos espalhados no mundo inteiro, com candeias de velas azuis, flores e vestes coloridas; muita música e muita dança, cujo simbolismo religioso representa o processo de purificação e renovação da natureza e o eterno "retorno dos tempos".